No início do Século XVI, a Igreja Católica Romana viveu o período mais tenebroso de sua história. Mergulhada em profunda corrupção moral, amiga dos poderosos, exploradora dos pobres, fascinada pelas riquezas, a cúpula daquela instituição impunha seus dogmas com violência, condenando à morte na fogueira quem deles discordasse, e lutava com todas as suas forças no propósito de impedir que a Bíblia, a Palavra de Deus, chegasse às mãos do povo. Não foi sem motivo que a Reforma Protestante aconteceu naqueles dias, como um grande gesto da misericórdia e da graça de Deus para com os Seus escolhidos.
Hoje, cerca de quinhentos anos depois, a “teologia” dominante no meio evangélico é a da prosperidade. A maior parte das denominações está parcial ou inteiramente contaminada por esse engodo surgido em meados do Século XX nos EUA. E, quem diria, as igrejas adeptas da chamada “teologia da prosperidade” deste Século XXI têm se tornado incrivelmente parecidas com a Igreja Católica Romana que excomungou Lutero e decretou a Contrarreforma. Alguns podem estranhar
esse comentário, mas quem observar a atual situação das referidas igrejas com olhos críticos verá que, de fato, as coisas são assim. Já veremos o porquê.
A semelhança mais óbvia entre este e aquele momento histórico é a abominável prática de realizar negócios usando o santo Nome de Deus. O catolicismo romano pós-medieval promovia a execrável venda de indulgências, através das quais garantia a ida para o céu de quem pagasse determinada quantia em dinheiro (era possível até mesmo comprar uma indulgência em favor de alguém já falecido). Hoje as denominações da prosperidade vendem promessas de saúde e enriquecimento financeiro para esta vida, e o meio empregado é o pedido de ofertas em valores cada vez mais altos. Isso é feito às claras, escancaradamente, inclusive em programas de TV.
Outro ponto em comum entre o catolicismo romano de cinco séculos atrás e as igrejas da prosperidade é o apego ao poder político. Desde a Idade Média a Igreja Católica Romana promovia alianças com os reis das mais diversas nações, e habilmente mantinha-se como principal detentora do poder. Hoje, as denominações da prosperidade lançam candidatos, pedem votos aos seus membros (inclusive durante os cultos, transformando seus púlpitos em palanques eleitorais), aliam-se aos principais “caciques” da política, realizam grandes eventos com a presença destes, barganham cargos em ministérios e secretarias dos governos. E o fazem, não pensando no bem da população, mas no deles próprios. Aliás, frequentemente se vê políticos ditos “evangélicos” envolvidos em sórdidos esquemas de corrupção.
Outra semelhança é a construção de edifícios monumentais, destinados a abrigar templos suntuosíssimos. A megalomania da Igreja Católica Romana a levou a construir, no passado, o Vaticano, uma obra pra lá de faraônica que gerou gastos grandes demais até mesmo para aquela riquíssima instituição (daí veio a ideia de pagar a conta através da venda de indulgências). Hoje as denominações da prosperidade fazem o mesmo, levantando recursos milionários com o propósito de
erguer os seus “vaticanos”, cada qual mais imenso e luxuoso que o outro. Exemplos óbvios disso são a “Cidade Mundial” e o “Templo de Salomão”, das igrejas Mundial do Poder de Deus e Universal do Reino de Deus respectivamente.
Mais um ponto em comum – o de consequências mais graves – é a manipulação da Palavra de Deus. Como já foi dito, a Igreja Católica Romana promoveu, durante séculos, uma autêntica guerra contra a divulgação da Bíblia. As mensagens pregadas nos púlpitos do catolicismo romano eram a palavra dos concílios, totalmente destoante dos ensinos bíblicos. Já as igrejas da prosperidade de hoje fazem algo muito mais sutil. Seus membros até carregam Bíblias, mas não existe estudo bíblico sério ali, nem entre os pastores, que raramente possuem formação teológica. A leitura verdadeiramente incentivada é a de manuais de autoajuda e de livros com receitas para se adquirir riquezas. E a pregação é a de “outro evangelho”, no qual Deus é servo, o homem é o senhor e o dinheiro é o caminho, a verdade e a vida.
Por isso, assim como houve a Reforma Protestante no Século XVI, uma grande reação aos desvios e desmandos da Igreja Católica Romana, deve acontecer nesta geração uma nova Reforma, desta vez no interior da própria Igreja Evangélica. Um movimento destinado a purificar a Noiva do Cordeiro, hoje infestada de bodes conduzidos por lobos devoradores. Um retorno ao Evangelho puro e simples, com a participação de carismáticos e cessacionalistas, calvinistas e arminianos, unidos em torno do objetivo comum de promover uma autêntica faxina na Igreja, do tamanho daquela feita há quase quinhentos anos atrás. Isso, obviamente, só acontecerá se o Senhor assim desejar, se a Sua misericórdia e graça nos alcançar mais uma vez. Dobremos, então, os nossos joelhos, e supliquemos pelo favor do
Todo-Poderoso. Pois, como nos idos de 1517, a situação está insustentável.
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