Quando se fala em cultura, uma palavra surge de imediato em nossa mente: decadência. O declínio cultural é a realidade em muitas sociedades contemporâneas, e o Brasil não constitui uma exceção. É deplorável a qualidade na grande maioria das músicas, livros, novelas, filmes, revistas, programas de TV e outras manifestações
culturais produzidas em nossos dias. Quanto à minoria restante – obras feitas com mais capricho – a contaminação dos valores mundanos, especialmente o apelo sexual, se faz presente em quase todas elas. Resta ao cristão pouquíssimo material digno de ser apreciado.
Entretanto, somos culpados por essa situação. Historicamente, o povo evangélico brasileiro tem se recusado a produzir cultura de qualidade. A mentalidade dominante em nossas igrejas sempre foi mais ou menos a seguinte: crente só lê a Bíblia, só ouve canções de louvor, só assiste a programas evangélicos e filmes com temas bíblicos, e assim por diante. “O mundo jaz no maligno” (isso é verdade, sem dúvida), então precisamos nos afastar do mundo. Evidentemente, temos o dever de nos mantermos puros, não colocando o que é mau diante de nossos olhos. Somos exortados à santidade, à separação do pecado. Fazemos bem em não consumir material sujo, repleto de tudo que ofende a Deus. Porém, agimos mal quando nos isolamos em nossas igrejas, deixando de oferecer a todos uma produção cultural diferente e melhor. Isso é omissão.
O evangélico brasileiro não compõe canções falando de amor, das paisagens exuberantes do nosso país, tampouco belas músicas instrumentais. Não escreve livros com histórias dignas de serem lidas. Não produz artes plásticas retratando com sensibilidade as obras do Criador. Não dirige filmes de qualidade, criativos, sem cenas imorais e chocantes. Provavelmente, se um crente manifestar disposição em fazer qualquer dessas coisas, seus próprios irmãos de fé o chamarão “desviado”, como se tudo o que não é explicitamente “evangélico” fosse pecado. Essa postura limitada e preconceituosa evidencia nossa falta de entendimento. Para um servo de Cristo, produzir cultura segundo os padrões vigentes de fato significaria desviar-se do Evangelho. Mas produzi-la para a glória de Deus é algo que o Senhor certamente espera de nós.
A Bíblia nos convoca a sermos luz para este mundo. Uma das formas de resplandecermos a luz de Cristo seria fazermos música, cinema, teatro, artes plásticas, literatura, dança e outras manifestações culturais que exaltassem ao Senhor, retratando algo de Sua majestade através de notas musicais, cores, formas, palavras e demais recursos que Ele próprio nos oferece. Enquanto os incrédulos exploram o pecado, usando-o como fonte de inspiração, nós revelaríamos a pureza, a justiça, a graça, o amor. Ao passo que os ímpios procuram despertar o pior do ser humano, nós nos empenharíamos em trazer à tona o que eleva o espírito. Dons e talentos, Deus
bondosamente nos concede. Quem se habilita a utilizá-los nesse nobre propósito?
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