Em meados da década de 1980 havia um comercial na TV de um shampoo anticaspa, anunciado como “aquele que parece, mas não é”. Dois garotos-propaganda falavam sobre as características do produto, e um deles dizia: “parece remédio... tem cheiro de remédio... tem cor de remédio...”, ao passo que o outro reiteradamente respondia: “mas não é!”. O referido anúncio publicitário, famoso na época, veio-nos à memória hoje, quando refletíamos sobre a situação da igreja. Pois, assim como o produto que à vista parecia um remédio e, no entanto, não era, existe também um agrupamento de pessoas parecido com uma igreja. Mas, definitivamente, não é.
Aqui não estamos falando de “teologia da prosperidade”, nem do oba-oba “gospel” (o falso evangelho que promove entretenimento para atrair multidões), tampouco das manifestações bizarras de gente rolando, uivando e dando gargalhadas durante as reuniões. Honestamente, essas coisas não se parecem nem um pouco com as
práticas das verdadeiras igrejas cristãs, e mais se assemelham aos espetáculos do mundo. Falamos de algo muitíssimo mais sutil, um grupo de pessoas com aparência de piedade. Gente que se veste com pudor e modéstia, adota um linguajar moderado e sem palavras torpes, carrega suas bíblias debaixo do braço, gosta de cantar hinos cristãos clássicos, ora com entonação de voz fervorosa. Mas, secretamente, pratica coisas vergonhosas, totalmente contrárias aos valores bíblicos. São os hipócritas.
O hipócrita não é aquela pessoa que, uma ou mais vezes, cai em pecado, mas se arrepende e clama a Deus por restauração. Não é alguém que luta para não pecar, e lamenta sinceramente quando peca. A hipocrisia é algo completamente distinto, porque não dá espaço ao arrependimento. Hipócritas não têm dramas de consciência e nem se importam com a vontade de Deus. Sua única preocupação é manter uma boa aparência, apta a impressionar os outros. Como o pastor que abusa de mulheres no gabinete pastoral. O jovem pregador usuário de drogas. A ministrante de louvor que, além de ter um marido, também possui um amante. O líder de jovens cuja vida sexual é tão ativa e suja quanto a dos piores incrédulos. O diácono que, em seus negócios seculares, explora funcionários, sonega impostos e vende
mercadorias falsificadas. A líder de círculo de oração que, através de fofocas e intrigas, arruína ministérios, abala casamentos e destrói amizades, por pura inveja.
A única motivação para o hipócrita estar na igreja é a conveniência. Ele deseja ganhar dinheiro, manter um prestígio social, ser aprovado por seus familiares, conquistar a admiração de outras pessoas, etc. Porém, nunca nasceu de novo, jamais foi convencido de seus pecados pelo Espírito Santo, não ama a Deus e
despreza a lei do Senhor. Se algum dia, por qualquer motivo, perceber que lhe é mais vantajoso abandonar a igreja, fará isso sem pensar duas vezes. Quando as iniquidades de tal pessoa são descobertas, os irmãos verdadeiros perdem o chão, pois nunca poderiam imaginar que aquele homem ou mulher em quem tanto confiavam vivia secretamente mergulhado em perdição.
Não é sem motivo que o Senhor Jesus por diversas vezes repreendeu veementemente os hipócritas de Israel. O Mestre preferia expor o Evangelho aos publicanos e meretrizes, os piores párias da sociedade, pois estes O ouviam e eram levados ao arrependimento. Que Deus tenha compaixão de nós hoje e afaste do nosso meio as pessoas semelhantes aos fariseus e escribas dos tempos de Cristo, gente que se veste como crente, fala como crente, cita a Bíblia como crente, ora (ou finge orar) como crente, age publicamente como crente, mas, em oculto, pratica as piores maldades, fria e despreocupadamente. Porque os tais podem causar estragos terríveis ao povo de Deus, levando muitos à decepção e desânimo. Exatamente porque parecem ser parte da igreja de Cristo, mas não são.
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