quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Amarás o teu próximo como a ti mesmo

O capítulo 13 da carta de Paulo aos Romanos contém uma belíssima lição sobre o significado do amor ao próximo, e uma explicação muitíssimo pertinente a respeito do que é pecar contra os nossos semelhantes. Eis o texto: “Por isso: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Rm 13:9). Neste versículo a Bíblia nos ensina que pecado é sinônimo de falta de amor.

Muitos de nós, talvez a maioria, aprendemos desde cedo que Deus simplesmente prescreve uma lista de proibições e, se alguém fizer algo proibido comete pecado. Existem membros de igrejas que mantém esse entendimento equivocado e o ensinam para os próprios filhos até hoje. Não é sem motivo que os incrédulos imaginam o Deus dos cristãos como um ser caprichoso, um desmancha-prazeres que só sabe dizer “não” às nossas vontades. Nossa falta de discernimento faz com que o Senhor pareça injusto, quando, na verdade, Ele é perfeitamente justo, e Seus mandamentos, bons.

Leiamos os versículos 12 a 17 do capítulo 20 de Êxodo, que contém os seis mandamentos específicos sobre nosso relacionamento com o próximo: “Honra teu pai e tua mãe (…). Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás...”. Neles recebemos instruções que, por analogia, se aplicam a inúmeras situações do nosso dia a dia. Por exemplo, o conceito de “pai e mãe” deve ser ampliado a fim de contemplar outras pessoas incumbidas de cuidar de nós e exercer algum tipo de autoridade à qual devemos nos submeter. O entendimento sobre o que é adultério precisa ir além, significando toda forma de sexualidade pervertida. O conceito de furto deve incluir as diversas maneiras de expropriação do patrimônio alheio. Falso testemunho inclui fofoca, calúnia, difamação, mentir em juízo, etc.

Se analisarmos séria e honestamente cada uma das prescrições de Deus, veremos que o Senhor proíbe somente o mal. Sua proibição tem por alvo atitudes que refletem egoísmo, desprezo pelas necessidades, direitos e anseios dos nossos semelhantes, disposição para ganhar fazendo com que os outros percam. Nenhum dos mandamentos foi dado sem motivo e, ainda que a sociedade tolere e banalize o descumprimento de qualquer um deles, o resultado da violação continua sendo mau e injusto. Desobedecer às ordens do Senhor gera sofrimento, pois Ele no-las deu para o bem do próprio ser humano. Esta é a verdade que muitos insistem em ignorar.

A falta de amor, de tão corriqueira, tornou-se de fato banalizada. Pessoas usam umas às outras a fim de obter lucro fácil, satisfazer impulsos sexuais torpes, extravasar rancores e frustrações, alcançar fama e status social, conquistar poder e outros supostos ganhos. Pecar contra o próximo é tratar o outro como coisa descartável. Isso sempre gera consequências, mesmo quando a outra pessoa voluntariamente se dispõe a servir de objeto, ou quando o tratamento injusto é recíproco. Ninguém sai ileso depois de experimentar o pecado, não existe neutralidade nessa área. As feridas surgem mais cedo ou mais tarde, e somente a graça de Deus pode curá-las.

O amor, por sua vez, promove famílias unidas, nas quais o respeito e a consideração de uns pelos outros é real. Produz casamentos sólidos, felizes, marcados pelo carinho, amizade e intimidade prazerosa entre os cônjuges. Gera ambientes de trabalho agradáveis e produtivos, com tratamento digno e remuneração justa para todos os envolvidos. Permite que existam sociedades livres da corrupção, ordeiras, nas quais se pode desfrutar de boa qualidade de vida. Esta é a vontade de Deus para os relacionamentos interpessoais, e a receita é simples: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12:31). Não existem atalhos nem caminhos alternativos para conquistarmos qualquer uma dessas grandes bênçãos. Ah, se nós entendêssemos as palavras do Senhor e nos empenhássemos em vivê-las!