sexta-feira, 26 de junho de 2015

Não podeis servir a Deus e às riquezas

Ontem à noite, quando assistíamos a alguns vídeos no Youtube, um deles nos impactou de modo especial. O polêmico pastor Caio Fábio havia recebido uma mensagem de um famoso cantor “gospel”, o qual preferiu não se identificar. Nela, o artista – casado e pai de família – confessava que, secretamente, era usuário de drogas e mantinha relações sexuais com muitas de suas próprias fãs. O tal cantor também afirmava ter muito medo de que essa vida secreta viesse a ser descoberta pelo grande público e pedia conselhos sobre como deveria agir diante disso tudo. Em resposta, o pastor disse ter conhecimento de diversos casos semelhantes protagonizados por músicos de louvor, presbíteros, evangelistas itinerantes e mesmo líderes de grandes igrejas, e na raiz de todas essas histórias está a sedução das riquezas. Acrescentou que considera um pecado alguém receber grandes somas em dinheiro para cantar canções de louvor ou pregar uma mensagem numa igreja, e, por fim, aconselhou o artista “evangélico” a abandonar definitivamente a carreira musical, pois não seria possível mantê-la em tais condições. 

Não pretendemos aqui comentar a respeito do pastor Caio Fábio, de quem discordamos em várias questões. Nosso objetivo é refletirmos sobre a situação de obreiros que vivem em pecado, enganando o povo de Cristo, como o cantor da história acima. Obreiros que, um dia, se propuseram a trabalhar como servos no Reino de Deus, mas, tendo alcançado certa prosperidade financeira, foram seduzidos pelos prazeres e glórias que o dinheiro pode proporcionar, e por fim se perderam. A alegria de subir ao púlpito para adorar ao Senhor através do louvor cantado, ou pregar as boas-novas da salvação eterna, foi esquecida. O prazer em presenciar a conversão de almas e restauração de vidas mediante o poder do Evangelho deixou de ter importância. As riquezas falaram mais alto, a ganância e a luxúria prevaleceram nos corações desses líderes. O anelo por desfrutarem um galardão eterno junto ao Rei dos reis no céu foi ofuscado pelas recompensas passageiras, como o carro de luxo, o glamour dos eventos grandiosos, o aplauso das multidões e o sexo fácil. 

“Ninguém pode servir a dois senhores”, disse o Rei Jesus, “porque (…) se devotará a um e desprezará o outro”. É esta a perdição dos obreiros de vida dupla, o motivo de toda a sua desgraça. O amor ao mundo e ao que há no mundo os consome, a devoção às riquezas da terra os leva a desprezarem o Senhor, embora O honrem com os lábios. Não há espaço para o padrão de Deus no estilo de vida ímpia que abraçaram, o Evangelho tornou-se mera fonte de lucro para esses homens e mulheres desviados. O mais triste é que o número de líderes “evangélicos” vivendo dissolutamente não para de crescer. Uma denúncia relativamente recente de gravíssimo escândalo foi a de que, no Congresso dos Gideões Missionários em Camboriú/SC, alguns pastores se embriagavam antes de subirem ao púlpito para pregar, e certos organizadores do evento exigiam que algumas das cantoras fizessem sexo com eles como requisito para se apresentarem no palco. Isso os torna piores do que os incrédulos, pois estes últimos ao menos não se fingem de santos. 

Ah, como será terrível o dia em que os líderes iníquos tiverem que prestar contas de seus atos a Deus! Ai daquele “pastor” que, tendo cheirado cocaína e se encharcado de whiskie no sábado, vem ao púlpito no domingo para proclamar o juízo de Deus contra os pecadores! Ai do “ministrante de louvor” que, depois de cantar sobre o amor de Deus no palco do show “gospel”, escolhe uma de suas fãs mais jovens, leva-a para o motel, fazendo a moça desviar-se, e no dia seguinte simplesmente esquece que ela existe! Ai do “pregador ungido” que se enriquece cobrando altos cachês para anunciar falsas profecias, usando e abusando do Nome do Senhor, em igrejas cujos membros, de modo geral, são pobres e necessitados! Ai de quem trata o Evangelho como negócio, valendo-se da boa-fé dos eleitos de Deus para adquirir riquezas, e depois faz da sua fortuna o seu deus! 

Você que lê este texto e se encontra em tal situação, e ainda é capaz de sentir-se mal por praticar as coisas descritas aqui, preste atenção: há tempo para uma mudança de vida! Deixe hoje mesmo esse falso ministério que está destruindo você e arrastando-o para longe de Deus, não importa qual é o seu cargo ou posição na igreja! Não se iluda imaginando que esse é o seu trabalho e sua fonte de renda, arrume outro ganha-pão se for o caso, mas não dê nem um passo a mais nesse caminho de perdição! Arrependa-se das suas maldades, peça perdão a Deus e volte ao começo de tudo, ao tempo em que você ia ao culto, louvava ao Senhor, orava fervorosamente e ouvia a mensagem com reverência e atenção! Estar assentado num dos bancos do templo com temor no coração é uma posição muitíssimo mais digna aos olhos do Senhor do que ocupar um cargo de liderança mergulhado em iniquidade. Não se apegue ao prestígio ou ao dinheiro, pois você mesmo sabe que está vivendo uma farsa; não deixe essas coisas o dominarem nem por mais um dia! A mão de Deus ainda está estendida, e Sua misericórdia continua presente. Abandone esse estilo de vida louco, volte-se para Cristo como na primeira vez! Que Ele o restaure e lhe conceda abundante graça!

terça-feira, 23 de junho de 2015

Precisamos uns dos outros

A Reforma Protestante foi, sem dúvida, uma das mais grandiosas provas do amor de Deus para com o Seu povo em todos os tempos. A redescoberta das Sagradas Escrituras, o renascimento da doutrina da salvação pela graça mediante a fé, o retorno da suficiência de Cristo e o renovado entendimento acerca da glória de Deus trouxeram luz numa era de trevas, marcada pelo domínio tirânico do papado. Os chamados “Cinco Solas” foram uma acertada síntese de tudo que a Noiva do Cordeiro mais necessitava para recuperar sua saúde espiritual. Naturalmente, os reformadores divergiam entre si em alguns pontos teológicos secundários, mas existia unidade no que tange às questões fundamentais. 

Porém, logo na geração seguinte, as divergências teológicas passaram a ganhar uma importância desproporcional. Disputas em torno de detalhes como a presença do corpo físico de Cristo na Ceia ou a doutrina da predestinação levaram os irmãos a dividir-se como se fossem rivais. No Século XVII, os puritanos britânicos e os pietistas de língua alemã sofreram forte oposição dentro de suas próprias igrejas (Anglicana e Luterana, respectivamente). Os pentecostais foram vistos com antipatia pelos cessacionalistas no Século XX. E hoje, nas redes sociais, é comum a troca de insultos e provocações entre calvinistas e arminianos, como se o Evangelho fosse propriedade exclusiva de um grupo somente. 

A Bíblia exorta-nos, sim, a zelarmos pela sã doutrina e a não misturarmos nosso culto ao Senhor com a adoração aos ídolos. O significado prático disso se resume em três pontos: primeiro, a fé cristã não compactua com formas de religião que rejeitam o senhorio de Jesus Cristo (budismo, islamismo, judaísmo, etc); segundo, nossa fé não admite um “cristianismo mesclado”, seja com a palavra do homem (catolicismo romano, adventistas do sétimo dia, testemunhas de Jeová, etc) ou com religiões obviamente não cristãs (espiritismo afro-brasileiro, espiritismo kardecista, etc); terceiro, não admitimos um “cristianismo” maculado pelos valores mundanos (liberalismo teológico, teologia da prosperidade). Decerto não deixaremos de amar, respeitar e conviver com as pessoas adeptas de tais crenças; só não podemos, de maneira nenhuma, incorporar a religiosidade delas à nossa fé. 

O problema é que muitos confundem zelo doutrinário com o desprezo aos irmãos em Cristo que pensam diferente. Servos do Senhor, verdadeiramente convertidos e genuinamente transformados pelo poder de Deus, são deixados de lado, simplesmente por terem opiniões diversas a respeito da idade certa para o batismo, a contemporaneidade ou não de dons como o de línguas, a eleição dos salvos e outros temas. Cada grupo se isola do outro, e irmãos os quais passarão a eternidade juntos, chegam ao cúmulo de trocarem insultos e zombarem uns dos outros, por causa do orgulho presente em seus corações. Isso é pecado e ofende ao Senhor, além de contribuir para o enfraquecimento da Igreja Cristã, por quem o Filho de Deus morreu na cruz. Que loucura, pensar que os membros de outras denominações – tão cristãs quanto a nossa – não têm nada a nos ensinar! 

Na verdade temos muito a aprender uns com os outros e precisamos viver em comunhão. Cada igreja mantém um entendimento parcial do Evangelho e nossa tendência é focarmos numa só doutrina bíblica, justamente por não assimilarmos todas as verdades expressas nas Escrituras. Alguns, priorizando o estudo bíblico e a correta exegese, negligenciam o conhecimento experiencial de Deus. Outros, dedicadíssimos à oração, não estudam a Bíblia com profundidade. Existem os que vivenciam o agir sobrenatural do Senhor com frequência, mas, supervalorizando as experiências, acabam por dar ouvidos ao que não deviam. E há irmãos muitíssimo hábeis em detectar uma heresia, porém, diante de uma situação de sofrimento, não se permitem clamar fervorosamente pelo socorro do Senhor. Qual dos filhos de Deus possui uma compreensão perfeita do cristianismo, e qual mantém uma visão cem por cento equivocada? A resposta, logicamente, é: nenhum. 

A história comprova que os períodos mais produtivos da Igreja, aqueles nos quais as bênçãos espirituais foram mais abundantes e o agir de Deus, mais claramente manifesto, coincidem com as épocas em que os crentes autênticos se uniram. Nos tempos apostólicos, quando “era um o coração e a alma” dos cristãos; na Reforma Protestante, que uniu multidões em torno das doutrinas centrais da fé cristã; ou nos Grandes Avivamentos do Século XVIII, tempo em que o importante era converter-se e viver uma vida de santidade; em todas aquelas ocasiões, as vaidades pessoais caíram e o testemunho do povo de Cristo foi notório. Por isso, nós, que somos a Igreja de hoje, precisamos nos arrepender, mudarmos nossa postura e nos unirmos outra vez, valorizando o essencial do Evangelho e respeitando nossas diferenças, que não precisam desaparecer para vivermos como irmãos. Certamente o Todo-Poderoso espera isso de nós. Que Ele nos ajude a colocarmos em prática!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Igreja Católica Romana do Século XVI e as novas igrejas da prosperidade

No início do Século XVI, a Igreja Católica Romana viveu o período mais tenebroso de sua história. Mergulhada em profunda corrupção moral, amiga dos poderosos, exploradora dos pobres, fascinada pelas riquezas, a cúpula daquela instituição impunha seus dogmas com violência, condenando à morte na fogueira quem deles discordasse, e lutava com todas as suas forças no propósito de impedir que a Bíblia, a Palavra de Deus, chegasse às mãos do povo. Não foi sem motivo que a Reforma Protestante aconteceu naqueles dias, como um grande gesto da misericórdia e da graça de Deus para com os Seus escolhidos. 

Hoje, cerca de quinhentos anos depois, a “teologia” dominante no meio evangélico é a da prosperidade. A maior parte das denominações está parcial ou inteiramente contaminada por esse engodo surgido em meados do Século XX nos EUA. E, quem diria, as igrejas adeptas da chamada “teologia da prosperidade” deste Século XXI têm se tornado incrivelmente parecidas com a Igreja Católica Romana que excomungou Lutero e decretou a Contrarreforma. Alguns podem estranhar esse comentário, mas quem observar a atual situação das referidas igrejas com olhos críticos verá que, de fato, as coisas são assim. Já veremos o porquê. 

A semelhança mais óbvia entre este e aquele momento histórico é a abominável prática de realizar negócios usando o santo Nome de Deus. O catolicismo romano pós-medieval promovia a execrável venda de indulgências, através das quais garantia a ida para o céu de quem pagasse determinada quantia em dinheiro (era possível até mesmo comprar uma indulgência em favor de alguém já falecido). Hoje as denominações da prosperidade vendem promessas de saúde e enriquecimento financeiro para esta vida, e o meio empregado é o pedido de ofertas em valores cada vez mais altos. Isso é feito às claras, escancaradamente, inclusive em programas de TV. 

Outro ponto em comum entre o catolicismo romano de cinco séculos atrás e as igrejas da prosperidade é o apego ao poder político. Desde a Idade Média a Igreja Católica Romana promovia alianças com os reis das mais diversas nações, e habilmente mantinha-se como principal detentora do poder. Hoje, as denominações da prosperidade lançam candidatos, pedem votos aos seus membros (inclusive durante os cultos, transformando seus púlpitos em palanques eleitorais), aliam-se aos principais “caciques” da política, realizam grandes eventos com a presença destes, barganham cargos em ministérios e secretarias dos governos. E o fazem, não pensando no bem da população, mas no deles próprios. Aliás, frequentemente se vê políticos ditos “evangélicos” envolvidos em sórdidos esquemas de corrupção. 

Outra semelhança é a construção de edifícios monumentais, destinados a abrigar templos suntuosíssimos. A megalomania da Igreja Católica Romana a levou a construir, no passado, o Vaticano, uma obra pra lá de faraônica que gerou gastos grandes demais até mesmo para aquela riquíssima instituição (daí veio a ideia de pagar a conta através da venda de indulgências). Hoje as denominações da prosperidade fazem o mesmo, levantando recursos milionários com o propósito de erguer os seus “vaticanos”, cada qual mais imenso e luxuoso que o outro. Exemplos óbvios disso são a “Cidade Mundial” e o “Templo de Salomão”, das igrejas Mundial do Poder de Deus e Universal do Reino de Deus respectivamente. 

Mais um ponto em comum – o de consequências mais graves – é a manipulação da Palavra de Deus. Como já foi dito, a Igreja Católica Romana promoveu, durante séculos, uma autêntica guerra contra a divulgação da Bíblia. As mensagens pregadas nos púlpitos do catolicismo romano eram a palavra dos concílios, totalmente destoante dos ensinos bíblicos. Já as igrejas da prosperidade de hoje fazem algo muito mais sutil. Seus membros até carregam Bíblias, mas não existe estudo bíblico sério ali, nem entre os pastores, que raramente possuem formação teológica. A leitura verdadeiramente incentivada é a de manuais de autoajuda e de livros com receitas para se adquirir riquezas. E a pregação é a de “outro evangelho”, no qual Deus é servo, o homem é o senhor e o dinheiro é o caminho, a verdade e a vida. 

Por isso, assim como houve a Reforma Protestante no Século XVI, uma grande reação aos desvios e desmandos da Igreja Católica Romana, deve acontecer nesta geração uma nova Reforma, desta vez no interior da própria Igreja Evangélica. Um movimento destinado a purificar a Noiva do Cordeiro, hoje infestada de bodes conduzidos por lobos devoradores. Um retorno ao Evangelho puro e simples, com a participação de carismáticos e cessacionalistas, calvinistas e arminianos, unidos em torno do objetivo comum de promover uma autêntica faxina na Igreja, do tamanho daquela feita há quase quinhentos anos atrás. Isso, obviamente, só acontecerá se o Senhor assim desejar, se a Sua misericórdia e graça nos alcançar mais uma vez. Dobremos, então, os nossos joelhos, e supliquemos pelo favor do Todo-Poderoso. Pois, como nos idos de 1517, a situação está insustentável.