quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O legado de Rudolf Bultmann

Hoje, lendo o capítulo 8 do Evangelho segundo Mateus, vimos ali o relato de diversos milagres e sinais operados pelo Senhor Jesus. A cura de um leproso, do servo do centurião e da sogra de Pedro, a tempestade apaziguada, a libertação de dois endemoninhados e muitos outros prodígios tremendos deixaram as multidões maravilhadas. Essas e outras passagens bíblicas narram acontecimentos reais que reavivam nossa fé em Cristo e fazem arder nosso coração, se cremos que as Escrituras são a Palavra viva do Deus vivo.
 
O teólogo luterano alemão Rudolf Bultmann (1884-1976) não pensava dessa forma. Doutor em teologia, professor universitário e escritor renomado, dedicou sua vida a analisar criticamente a Bíblia, especialmente o Novo Testamento. Partindo do pensamento teológico liberal, segundo o qual as Escrituras seriam repletas de erros e histórias inventadas, e fortemente influenciado pela filosofia de Heidegger, Bultmann desenvolveu sua carreira acadêmica procurando retirar da Bíblia tudo que há de sobrenatural e não pode ser explicado pelo raciocínio humano, tendo chamado tais coisas de “mitos”. Uma palavra, título de um de seus livros, resume esse propósito: demitologização.
 
Alguns exemplos do que seriam esses “mitos”, os quais deveriam ser rejeitados pelo “cristão” moderno: a concepção de Jesus por obra do Espírito Santo, todos os Seus milagres, exorcismos e maravilhas, Sua ressureição, ascensão aos céus e segunda vinda iminente como justo juiz. Bultmann buscou descartar esses fatos e ensinos sobre Cristo narrados nas Escrituras, mantendo apenas o que restasse disso, ou seja, o “Jesus” carismático, líder influente, ser humano compassivo e amigo dos pobres. O Jesus Cristo Filho de Deus, Salvador, seria uma ideia, um “Kerigma”, algo não histórico e não comprovável, que a Bíblia não nos permitiria decifrar (por ser, segundo o teólogo, falha e não confiável). Algo referente à “Geschichte”, a história existencial, subjetiva, que não é a História real, visível, objetiva. Alguém a ser descoberto, um conceito vago. Certamente, não o Cristo que Se revela a nós nas Escrituras!
 
Bultmann divulgou amplamente suas ideias e conquistou um bom número de seguidores em diversos países do mundo, os quais adotaram e desenvolveram seu projeto intelectual de demitologização. São professores de teologia que atuam em seminários, especialmente aqueles de linha ecumênica (no caso brasileiro, os reconhecidos pelo MEC), e a cada aula minam a fé de seus alunos com um discurso, na prática, ateu. Pessoas que não creem no sobrenatural, e por isso o negam como se fosse coisa de supersticiosos e ignorantes. Se pensarmos que esses teólogos e futuros teólogos bultmanianos são ou serão pastores encarregados de lidar com uma parcela do rebanho de Cristo, só podemos lamentar profundamente por cada alma que cair nas mãos dessa gente!
 
Certa vez, o Senhor Jesus disse algo que deveria encher de temor esses teólogos, que afinal leem e estudam a Bíblia. “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18:6-7). Logicamente, um bom bultmaniano dirá que essas palavras não o atingem. Mas convém refletir sobre a mensagem do Mestre. Cristo falou sobre alguém escandalizar um pequenino que crê n’Ele. Vamos nos deter aqui.
 
Frequentemente surgem no meio da Igreja rapazes e moças que, cheios de fé em Cristo e com ardente desejo de trabalhar na seara do Senhor, matriculam-se em seminários de teologia, dispostos a se capacitarem melhor para o serviço no Reino de Deus. Então, logo se deparam com professores adeptos do neoliberalismo teológico e seguidores de Bultmann, e estes, em suas aulas, questionam todos os pontos essenciais da fé cristã, com argumentos que, para alunos imaturos e sem preparo acadêmico, parecerão irrefutáveis. A primeira reação da turma é de angústia e perplexidade, depois vem o abalo na confiança em Deus, perda de fervor espiritual e, consequentemente, a relação desses alunos com Cristo e o Evangelho muda para pior. Sua fé pura e simples sofre um duríssimo golpe, e alguns jamais conseguirão recuperá-la. Agora voltemos às palavras de Cristo em Mateus 18:6-7, e as comparemos com essa história que se repete a cada novo semestre em diversas escolas teológicas. É fácil identificar nela o escândalo (o ataque à fé cristã), homens que produzem o escândalo (professores de teologia) e pequeninos sendo escandalizados (alunos que mantinham uma fé singela). “É mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!”.
 
Então, o mal iniciado na faculdade de teologia segue destilando seu veneno para além do ambiente acadêmico, à medida que novos teólogos formados ingressam no ministério pastoral, sem fé no Cristo revelado, duvidando do sobrenatural de Deus e desconfiando da mensagem bíblica. Nas igrejas, encontrarão pessoas crentes, que desconhecem os tratados teológicos de Bultmann e outros neoliberais, mas temem ao Senhor Jesus. E então, esses cristãos simples terão sua fé confrontada por pastores e pastoras céticos, que, devido à capacidade argumentativa adquirida no seminário, conseguirão abalar a confiança em Deus de muitos. “Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar”!
 
Rudolf Bultmann foi famoso no meio teológico, e deixou como legado uma coleção de obras publicadas e uma pequena multidão de seguidores. Dos ensinamentos desse renomado pensador alemão surgiram muitos frutos, que honestamente não podemos chamar de bons. Cada uma das sublimes verdades do Evangelho foi combatida, a pureza da mensagem cristã deu lugar a um compêndio filosófico aberrante e repleto de heresias, muitos perderam a fé, comunidades enfraqueceram ou mesmo sumiram como reação à frieza dos que as pastoreavam, o bendito Nome de Cristo foi blasfemado à exaustão. Bultmann terá sido salvo? Talvez sim, pois o poder do Espírito Santo pode tê-lo regenerado antes de sua morte, e é possível que finalmente tenha crido em Jesus sem que tenhamos tido notícia, o que decerto lhe asseguraria a salvação. Mas o estrago está feito. Que o Deus poderoso para salvar tenha compaixão das vítimas do neoliberalismo bultmaniano, não permitindo que partam dessa vida sem uma experiência de genuína conversão ao Seu Filho unigênito Jesus Cristo, o qual vive, reina e Se revela a nós nas Escrituras!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Eu escolho Deus

Eu escolho Deus, eu escolho ser amigo de Deus”. Estes versos corroboram a mensagem de vários sucessos recentes do movimento gospel (“eu escolho Te adorar”, “aquele que a Ti escolher”, etc). Embora o Senhor Jesus tenha nos dito o contrário, do modo mais claro e enfático possível em João 15:16 (“não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós”), os principais astros e estrelas evangélicos da atualidade garantem que o homem toma a iniciativa de crer em Deus e servi-Lo.
 
Muitos cantam isso de coração e com boas intenções, pretendendo dizer mais ou menos o seguinte: eu me proponho a deixar tudo aquilo que desagrada ao Senhor, para fazer o que Lhe agrada. De fato, temos a responsabilidade, e mais ainda, o dever de abrir mão da concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, a fim de buscarmos o Reino de Deus e a Sua justiça. Porém, frases como “eu escolho Deus” revelam uma profunda ignorância a respeito do estado espiritual do ser humano.
 
A Bíblia nos garante que todos nós pecamos, e fomos destituídos da glória de Deus (Romanos 3:23). Que estávamos mortos em nossas ofensas e pecados (Efésios 2:1). Precisávamos nascer de novo, pelo poder do Espírito Santo (João 3:5). E, se não fosse concedido pelo Pai, jamais poderíamos vir a Cristo (João 6:65). A salvação, para nós, era impossível (Mateus 19:26). Éramos, por natureza, filhos da ira (Efésios 2:3). Mas Deus nos amou primeiro (1João 4:19). Ele, por pura graça, contemplou nossa miséria, Se compadeceu de nós e nos trouxe à vida, através da redenção conquistada por Jesus (Romanos 3:24). Este é o Evangelho de Cristo!
 
Prezado(a) irmão(ã), saiba que pecadores impenitentes não escolhem Deus! Crer em Jesus Cristo e servi-Lo não é a mesma coisa que decidir entre um suco e um refrigerante, ou optar por uma camisa azul ao invés de uma verde. Eu e você estávamos mortos espiritualmente! A diferença entre nós e o ateu mais endurecido é somente uma. A graça do Senhor nos alcançou, transportando-nos da morte para a vida, ao passo que os ateus continuam mortos. Perceba que nós não temos merecimento algum, já que também negávamos a Deus com nossos lábios e/ou atitudes. Foi Ele quem mudou o curso de nossa existência aqui na terra, e especialmente o nosso destino eterno!
 
Por que publicamos essas palavras? Para combater qualquer ilusão que você porventura mantenha a respeito da obra salvadora realizada em sua vida. Não pense que você decidiu ser salvo, ou que crer em Jesus tenha sido uma escolha pessoal sua! Seu coração era totalmente corrupto e insensível ao Evangelho, como também era o meu, e toda a imaginação de seus pensamentos, continuamente má. Até mesmo suas palavras e atitudes mais doces estavam contaminadas por alguma dose de egoísmo, ou seja, desejo de autoglorificação. Você, como eu, abominava a ideia de se submeter a Deus e viver para a Sua glória. Deus o(a) salvou! Ele realizou um milagre na sua vida, e também na minha, que nós hoje não temos noção do quanto foi grandioso e sublime! Aleluia! Louve ao Senhor em todo tempo, por Seu incomparável amor e graça!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A feiura do pecado

Em letras de músicas, filmes, contos de literatura e programas de TV, o pecado é frequentemente descrito como algo divertido, prazeroso, capaz de proporcionar verdadeira alegria. Estilos de vida pecaminosos são enaltecidos e glorificados, como se os seus adeptos vivessem mais intensa e plenamente, deixando sua marca e se tornando exemplos para outros. A chamada ao pecado é dirigida sobretudo aos jovens, que se encantam com a sexualidade desregrada e promíscua, os excessos de álcool e drogas e outros vícios praticados por seus ídolos da mídia. Tudo é lindo e colorido nas canções, páginas de livros, revistas e tela de TV!
 
A realidade é muitíssimo diferente. Desde Adão, o pecado é a causa de todo sofrimento e desgraça nesse mundo. Por causa do pecado famílias são destruídas, inimizades surgem, vidas são ceifadas, patrimônios desaparecem. As consequências do pecado estão estampadas no rosto de crianças infelizes e abandonadas, no pranto da esposa traída, no desespero de pais que têm seus filhos assassinados, na dolorosa angústia dos filhos que veem seu pai ir para a cadeia. O pecado leva muitos a se suicidarem ou tentarem suicídio. Grande parte dos que padecem de depressão pecaram gravemente ou foram vítimas de pecados cometidos por outros.
 
Não há um nível seguro para a prática do pecado. Adultérios nascem de flertes aparentemente inocentes. Perversões sexuais, como a pedofilia e o sadismo, começam num simples folear de revistas eróticas. A escravidão das drogas remete à primeira tragada em um cigarro de maconha. Uma vida de crimes tem início no furto de um objeto barato. É assim que as pessoas desavisadamente dão os primeiros passos num caminho cujo fim é ruína e perdição. Diga a um adolescente rebelde que ele está em perigo, e ele rirá. Mas o fato é que boa parte dos garotos que hoje sonham com uma vida libertina de pecado, em breve estarão colhendo amargos e dolorosos frutos. Você que lê este texto, certamente já viu alguns, senão muitos de seus colegas de infância e adolescência se acabarem em algum pecado que lhes tenha custado a saúde, paz, unidade familiar, liberdade ou até a vida.
 
O pecado é imundo, sórdido, vil, malcheiroso, repugnante e abominável, ainda que frequentemente se esconda em uma roupagem agradável aos olhos. Quem abraçar uma vida de pecado com certeza acabará mal. Por causa do pecado, o Filho unigênito de Deus precisou vir ao mundo e se humilhar até à morte, tomando sobre Si a ira do Pai. O inocente em lugar dos culpados, fazendo-Se maldição, a fim de nos reconciliar com o nosso Criador. Nós, que cremos n’Ele, se de fato O amamos, precisamos odiar o pecado com toda a força de nossa alma! E não somente isso, temos o dever de anunciar ao mundo não apenas a indescritível beleza de Cristo, mas também a horrível feiura do pecado.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Templos suntuosos pra que?

Pouco antes de subir aos céus, o Senhor Jesus nos deixou as seguintes palavras, registradas em Mateus 28:19-20: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado”. Foi uma ordem simples, que certamente implica em um elevado custo de esforços e renúncia, e resume a missão da Igreja de Cristo, que é levar o Evangelho a toda criatura.
 
Nosso Mestre não disse nada a respeito de templos grandes e imponentes, até porque, na Nova Aliança, Deus habita não mais em construções erguidas por mãos humanas, mas no coração dos crentes. Por esta razão, quando a Igreja Romana edificou, nos séculos XVI e XVII, uma sede megalomaníaca no Vaticano, construída no formato de uma chave, a “detentora exclusiva das chaves do Reino dos Céus” apenas evidenciou o quanto estava distante da vontade do Senhor, preocupada tão-somente em demonstrar poder aos olhos dos homens sob o seu domínio. Nada mais distante das práticas da igreja primitiva, descrita no livro de Atos dos Apóstolos!
 
Porém, lamentavelmente, a megalomania e a soberba não são vícios exclusivos da Igreja de Roma. As denominações neopentecostais, ditas “evangélicas”, têm sido tomadas pelo mesmo mal, como comprovam as novas e grandiosas sedes recém-construídas ou em construção das principais igrejas da “teologia da prosperidade”, orçadas em dezenas ou até centenas de milhões de reais!
 
"Para Deus, nós fazemos o melhor”. Essa é a resposta de praxe, que os bispos, apóstolos e missionários neopentecostais sempre repetem. Sob esse ponto de vista, o “melhor” significa o mais caro, o mais rico, o mais luxuoso, o mais grandioso, o mais impressionante. É normal que os descrentes, não salvos, não regenerados, pensem de modo tão materialista. Triste é verificar que alguns líderes evangélicos têm o mesmo pensamento!
 
É lógico que os templos cristãos devem ser erguidos com capricho e bom gosto, dentro das possibilidades de cada congregação. Seria uma demonstração de desleixo edificar um templo acanhado demais, se os membros possuem boa condição financeira. No entanto, construções enormes, destinadas a abrigar milhares de pessoas, não são uma boa ideia. A igreja precisa ser uma comunidade de irmãos em íntima comunhão, e não uma multidão que se reúne em megaeventos. Melhor é ter vinte templos com capacidade para quinhentas pessoas cada, do que um prédio enorme capaz de receber dez mil de uma só vez! E quanto ao luxo ostensivo, essa característica não cai bem no meio cristão, nem mesmo se a comunidade for rica. E os membros mais pobres, não se sentiriam humilhados em um prédio de riqueza imponente? Sim, mas a liderança neopentecostal parece não enxergar esse simples fato.
 
Enquanto isso, em povoados esquecidos do sertão nordestino, região amazônica, norte de Minas Gerais e cantões de diversos estados brasileiros, tanta gente humilde padece sem Cristo, ignorando a sublime mensagem do Evangelho, desesperançados, entregues às crendices e superstições de um sincretismo religioso que o catolicismo romano por conveniência sempre alimentou! Mais adiante, em outras nações, outros povos gemem sem salvação, aprisionados em suas próprias manifestações religiosas antibíblicas, anticristãs, enganosas e diabólicas. Quantos missionários poderiam ser enviados e sustentados dignamente com os milhões e milhões de reais (mal) empregados em edifícios riquíssimos que as denominações neopentecostais erguem a cada dia, sem que Deus jamais lhes tenha ordenado isso? Essa é uma pergunta que deveria ser levada a sério.
 
"Portanto ide, fazei discípulos”. Deus, o Senhor do universo, não precisa de templos suntuosos, enormes, cheios de riquezas, que impressionam o homem, mas não Aquele que na concha de Sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos. O Senhor quer almas! Servos, remidos e lavados no sangue do Cordeiro, de todas as partes do mundo, ainda que se reúnam em cabanas de madeira e sapê, mas o façam para a glória de Deus! Quem se habilita a fazer a obra de Cristo, tal como Ele ordenou?