sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Neo-ortodoxia ou neoliberalismo teológico: um outro evangelho

O Século XX foi marcado por uma série de inovações na teologia. Desde o advento da neo-ortodoxia, com a publicação da Carta aos Romanos de Karl Barth em 1919 – obra clássica que veio contestar a teologia liberal sem, contudo, promover um retorno à ortodoxia tradicional – passando por Rudolf Bultmann e seu programa de demitologização (um autêntico retorno ao ceticismo dos liberais), Paul Tillich, Emil Brunner, Jürgen Moltmann e Wolfhart Pannenberg dentre outros, os seminários teológicos experimentaram uma miscelânea de ideias e conceitos a respeito da Bíblia e de Deus, influenciando gerações de pastores, inclusive muitos dos que hoje ocupam o púlpito e a direção de certas igrejas.
 
Ainda que a neo-ortodoxia e/ou neoliberalismo teológico não configurem uma, mas múltiplas teologias, o fato é que podemos perceber um conjunto de características em comum nas denominações e congregações adeptas dessas duas correntes (ou desta única grande corrente). As semelhanças não se verificam tanto no campo doutrinário, mas na realidade prática, que é a forma de se viver a fé. Aqui apresentamos alguns desses pontos comuns, a fim de refletirmos um pouco sobre o modo como neo-ortodoxos ou neoliberais praticam o Evangelho de Cristo.
 
De início, destaque-se o entendimento de que a Bíblia não é a inerrante Palavra de Deus, mas uma coleção de livros repletos de erros e contradições, que apenas contém essa Palavra. Os neoliberais são unânimes em criticar as Escrituras, em maior ou menor medida. A consequência natural foi o abandono de um dos pontos essenciais da Reforma, o “Sola Scriptura”, embora esta jamais tenha sido a intenção de Karl Barth. Em substituição à crença na suficiência da Bíblia, tem-se entendido que é tarefa da igreja definir aquilo que é de fato Palavra de Deus dentro das Escrituras. Assim a igreja volta ao pior erro do catolicismo romano, o de manipular a Palavra do Senhor, retirando dela ou lhe acrescentando o que convém aos homens.
 
Onde não se crê na inerrância bíblica adere-se a conceitos mundanos sobre o que é bom ou justo. O politicamente correto é algo caríssimo entre os neoliberais, mesmo quando entra em conflito com as Escrituras. Com isso, igrejas deixam de denunciar pecados, evitam pregar o Evangelho aos adeptos de outras religiões, celebram casamentos entre pessoas do mesmo sexo (ou, no mínimo, abstêm-se de condenar essa prática), toleram o aborto, apoiam o feminismo, dentre outros absurdos. Temem desagradar aos homens, mas não se importam em desagradar ao Senhor. A agenda da igreja passa a ser a do mundo.
 
Consequentemente, os neoliberais são ferrenhos defensores do ecumenismo. Já que a Bíblia não é mais considerada infalível e agradar ao mundo é uma prioridade, os adeptos do neoliberalismo teológico fazem questão de dividir o mesmo altar com católicos romanos, espíritas, budistas, muçulmanos e quem mais aparecer. Louvar a um “deus” genérico, orar junto com quem não reconhece a Cristo como Senhor, pregar homilias feitas para não mexer com a fé de ninguém, são atitudes consideradas louváveis! Respeito aos que pensam diferente não basta; é preciso agir como se o Trino Deus professado pelos cristãos não fosse em nada superior aos deuses de outras crenças!
 
Posto isso, por uma questão de coerência os neoliberais rejeitam enfaticamente a doutrina bíblica do inferno, o lugar de castigo eterno para os que não creem em Cristo Jesus. Até mesmo Karl Barth, o mais “ortodoxo” dentre todos os teólogos influentes nesse grande movimento, negou a futura condenação dos ímpios. O amor de Deus, segundo creem, ofusca Sua justiça e santidade, impedindo-O de punir quem quer que seja. Com isso, o Evangelho perde todo o seu caráter de urgência, passando a ser apenas uma bonita história sobre um Cristo generoso, que não voltará como justo juiz. Quem quiser, creia n'Ele; os que preferirem rejeitá-Lo, não se preocupem.
 
Retirada a urgência da mensagem da cruz, outro assunto passa a ser prioritário entre os neoliberais: a construção de uma sociedade livre de desigualdades. O alvo não é mais a vida eterna no céu, junto ao Senhor Jesus. No caldeirão de teologias do neoliberalismo há espaço garantido para uma espécie de socialismo mais tolerante e brando que o de Marx, Lenin, Stalin e Mao. O grande adversário não é mais satanás, e sim os ricos opressores. Sabemos que o Senhor repudia toda prática opressiva contra os mais pobres, mas os neoliberais vão além. Parecem crer que o Reino de Deus é, sim, deste mundo, ao contrário do que Jesus nos ensinou. Alimentar os famintos é essencial; chamá-los ao arrependimento e fé em Cristo, aparentemente não é.
 
Concluímos que os neoliberais vivem um outro evangelho, muito diferente daquele que Cristo pregou. Embora existam pessoas amabilíssimas nas igrejas filiadas a esse grande grupo chamado neo-ortodoxia (um termo mais correto é neoliberalismo), gente inteligente, culta, sensível ao drama dos mais necessitados, capaz de promover belas obras sociais em periferias e instituições para crianças ou idosos; ainda assim professam algo estranho às Escrituras. Um evangelho que desconfia da Bíblia e confere a homens falhos o papel de juízes da Palavra de Deus; que se curva ao “politicamente correto”; aplaude o ecumenismo, deixando de chamar à conversão os não cristãos; rejeita a existência do inferno, do qual o Senhor Jesus tantas vezes falou; troca a mensagem da cruz pelo socialismo. Esse não é o Evangelho da salvação ensinado nas páginas da Bíblia e amado pela igreja de Cristo!

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