quinta-feira, 23 de maio de 2013

Família reformada visita uma igreja liberal (uma estória inusitada)

Imaginemos que existisse uma máquina do tempo, daquelas tantas vezes retratadas em filmes. É claro que tal coisa não é possível, mas vamos, por um instante, imaginar que fosse. Então, essa geringonça é colocada nos arredores da cidade de Genebra, por volta do ano de 1560, e uma família de crentes reformados daquela época recebe um inusitado convite: entrar na máquina, para conhecer uma congregação evangélica do Século XXI, em uma viagem pelo tempo. O marido, esposa e filhos vão, ansiosos por conhecer a evolução da Igreja num período de quase quinhentos anos. Assim começa nossa estória.
 
Isaac, Débora e seus filhos Daniel, Jonas, Samuel, Raquel e Rebeca adentraram animadíssimos no templo de uma igreja supostamente protestante, na cidade de Paris – agora, no ano de 2013, e logo tomaram seus lugares. Perceberam que a maioria dos bancos permaneciam vazios, não havia mais que sessenta pessoas presentes, embora o local comporte dez vezes esse público, com folga. Surpreendentemente, um senhor comentou: “Hoje a igreja está mais cheia do que o normal, porque é verão, e além de tudo teremos um batismo!”. “Se é assim”, pensou Isaac, “quantos vão ao culto quando está frio e não há nenhuma atração especial?”.
 
A celebração começou com um belo hino, seguido da leitura de um salmo. Até esse ponto, a família visitante havia estranhado apenas o público reduzido, o uso do órgão no culto e as roupas das senhoras presentes, coloridas demais e um pouco curtas para os padrões a que estavam acostumados. Então, convidados pelo pastor dirigente, um casal de membros subiu ao altar, trazendo uma criança de colo para ser batizada, acompanhados dos padrinhos dela. Nesse momento, Isaac e Débora ficaram visivelmente perturbados, ao observarem as vestes escandalosas de uma das madrinhas, que até então não tinham visto. Durante todo o batismo, Isaac, Débora e os cinco filhos permaneceram de cabeça baixa, evitando olhar para o altar, a fim de não verem a jovem madrinha vestida com uma blusa decotadíssima.
 
Após o sermão – cujo conteúdo surpreendeu negativamente os visitantes do século XVI, já que o pregador falou sobre questões políticas e sociais durante meia hora, sem mencionar o nome do SENHOR nem uma vez sequer – a família genebrina tomou outro susto, quando o ministrante convidou a congregação a estar presente no sábado seguinte, para a união matrimonial de “dois homens, membros queridos desta igreja”. “É lógico que o pastor quis dizer ‘um homem e uma mulher’!”, cochichou Isaac para os filhos.
 
Ao final do culto, a família genebrina se aproximou do casal parisiense, para cumprimentá-los pelo batismo. “Que criança linda, Deus a abençoe!”, disse Débora. “Há quanto tempo vocês são casados?”, perguntou, para puxar assunto. “Oh, não, nós não somos casados”, foi a resposta do jovem pai do bebê. “Achamos o casamento uma formalidade desnecessária! Nós moramos juntos há cinco anos”, completou a mãe, “e agora decidimos ter nosso filho!”. Sem se conter, Isaac perguntou ao casal se o pastor nunca lhes disse que a situação deles é de pecado. “Homem, de que época você é?”, respondeu o jovem pai francês, sorrindo. “Pensei que você estava apenas fantasiado como um puritano de cinco séculos atrás, mas agora vejo que você fala como se fosse um deles! A maioria dos casais dessa igreja não são casados, exceto aqueles que fazem questão da cerimônia religiosa! E aqui não se fala em pecado!”.
 
Constrangida e tentando amenizar a conversa, Débora comentou: “Que bênção do SENHOR é essa criança! Eu sempre sonhei em ser mãe, e fiquei exultante quando Deus me concedeu o Daniel, nosso primeiro filho!”. Respondendo, a jovem francesa disse: “Eu, no começo, não queria. Cheguei até a fazer um aborto, há três anos atrás, mas agora decidimos manter esse outro”. Trêmula, e com lágrimas nos olhos, Débora voltou-se para a jovem, dizendo: “Você quis dizer que sofreu um aborto espontâneo, e não que você realizou propositalmente um aborto, certo?” – pois a crente genebrina recusava-se a acreditar no que acabara de ouvir. Então, meio sem graça, a parisiense respondeu que decidiu abortar, com o apoio do seu companheiro, porque estava vivendo um ótimo momento em sua carreira profissional, e naquela ocasião um filho não seria bem vindo. “Até conversei com o pastor na época, e ele me deu toda razão!”, completou a jovem mãe francesa, já em um tom de voz impaciente.
 
Nesse instante, Isaac, sua esposa e os cinco filhos deixaram o templo apressados, voltando para a máquina do tempo profundamente angustiados, decepcionados e cheios de indignação. “Vamos para casa, minha querida! Venham, meus amados filhos!” – chamou Isaac, enxugando as lágrimas que lhes corriam no rosto. “E que Deus tenha misericórdia dessa geração perdida! Pois, diante de tudo que vimos e ouvimos aqui, o juízo do Senhor deve estar prestes a cair sobre essa gente!”. Fim da nossa estória.

   

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