sexta-feira, 30 de maio de 2014

Carta a um estudante de Teologia

Prezado irmão e amigo,
 
Este já é o seu quinto período no seminário, e faz algum tempo que venho sentindo desejo de lhe escrever, mas hoje me senti compelido a fazer isso. Nós não temos tido muitas oportunidades de nos encontrarmos pessoalmente, pois você precisou mudar de cidade para estudar Teologia, e é nítido que o curso tem consumido seu tempo e suas forças. Por isso, sinto uma alegria especial cada vez que recebo um e-mail seu, ou uma mensagem de celular. Sei de seu amor pelos irmãos, e, de nossa parte, saiba que a recíproca é verdadeira.
 
Sou leitor assíduo do seu Blog e sempre visito a sua página no Facebook, ambos repletos de citações de teólogos famosos, vídeos curtos e textos de sua própria autoria. Percebo a impressionante evolução no seu conhecimento e imagino quão dedicado aluno você é. Então me lembro de você há três ou quatro anos atrás, da fé singela e fervorosa que o levava a dedicar-se por inteiro ao serviço no Reino de Deus, do cristianismo prático o qual era a marca da sua vida. E, preocupado, rogo ao Senhor que o livre do esfriamento na fé.
 
Sim, meu irmão, eu me preocupo com você. Sei que os seminários hoje estão tomados pela teologia liberal e neoliberal, e que, por exigência do MEC, seguem uma linha ecumênica, tendo-se tornado autênticas escolas de ciências da religião, de cunho puramente humanista. A faculdade onde você estuda não é das piores nesse sentido, pelo que ouço falar, mas ainda assim está inserida no mesmo contexto, caso contrário nem teria aval do Ministério da Educação. Logo, você tem aprendido a ler a Bíblia sob a perspectiva do método crítico, duvidando da veracidade da Palavra de Deus. Você tem sido incentivado a questionar tudo que ultrapassa o mísero entendimento humano, como a concepção de Jesus por obra do Espírito Santo, Seus milagres e Sua ressurreição. Enfim, sua fé tem sido bombardeada todos os dias!
 
Percebo, pelas postagens no seu Blog e no Face, que você não aderiu às ideias dos teólogos mais liberais e críticos, e que não se tornou um defensor do ecumenismo ou da teologia da libertação, o que já é uma graça enorme. Mas ainda assim temo que o fascínio pelo conhecimento venha substituir a sua antiga fé. Aprofundar-se no estudo da Palavra é algo bom – aliás, é uma ordem bíblica – desde que isso se reverta em mais amor a Deus, amor pelos irmãos e santidade pessoal. Lutero, Calvino, John Owen, Jonathan Edwards, Wesley, Spurgeon, Martyn-Lloyd Jones e John Stott são exemplos de teólogos que souberam transformar o conhecimento adquirido em instrumento para a glória de Deus. Agora me responda, meu amigo: seus professores do seminário falam de Jesus com temor, reverência e amor comparável ao desses santos que acabo de citar?
 
Lembre-se que o próprio Senhor Jesus disse: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele” (Mc 10:15). O Evangelho não pode ser encarado como um mero ramo do conhecimento, uma matéria a ser debatida por acadêmicos; não! É poder de Deus, graça, salvação, vida eterna! Temos que recebê-lo com grande alegria, desfrutar desse tesouro e compartilhá-lo com quantos pudermos, pois o Senhor espera isso de nós! Você vivia isso intensamente, por isso quis estudar Teologia e não Medicina, Direito ou Engenharia. Eu o ouvi dizer, com lágrimas nos olhos, de seu anelo por dedicar a vida em prol do Reino. Isso foi um dia antes da sua viagem de mudança, nunca vou me esquecer daquele momento. Como eu me alegrei com sua disposição em abraçar o ministério pastoral!
 
Não, não penso que você esteja se desviando ou tornando-se incrédulo, como muitos teólogos se tornaram. Mas também não acredito que eu esteja exagerando ou imaginando coisas, pois o risco de esfriamento espiritual é real para jovens seminaristas expostos a um sem-número de aberrações pretensamente chamadas “teologias”. Por isso, querido irmão, medite com carinho nestas palavras e busque manter aceso o primeiro amor, a fé simples que agrada a Deus, guardando sua mente de toda sutil armadilha do inimigo. Observe atentamente se aquela alegria que você sentia em cantar louvores, ouvir uma mensagem e orar com os irmãos continua presente. Verifique se a sede em manter comunhão com Deus e receber a direção d’Ele ainda está viva em seu coração. Se tais coisas estão minguando em sua vida, clame, humilhe-se, busque ao Senhor com todas as forças, até que Ele as restaure!
 
Que Deus o abençoe com toda sorte de bênçãos!
 
Seu irmão e amigo.

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