sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cristianismo sem sofrimento. Até quando?

A história tem demonstrado a importância das perseguições e provações no aperfeiçoamento dos crentes. Todos os períodos nos quais a (verdadeira) igreja testemunhou mais firmemente o Nome de Cristo, viveu em maior santidade e produziu mais excelentes frutos foram épocas marcadas pelo sofrimento. Assim aconteceu no tempo dos apóstolos, na igreja sofredora do Século II ao início do Século IV, durante a Reforma, no puritanismo e nos chamados Grandes Avivamentos dos Séculos XVIII e XIX. O próprio Senhor Jesus deu-nos o maior exemplo de sofrimento paciente e assegurou-nos que a vida dos crentes piedosos nesse mundo não seria fácil.
 
Essa verdade incontestável foi veementemente negada no Século passado pela chamada “teologia da prosperidade”. Kenneth Hagin foi o principal responsável na divulgação de uma doutrina rasa, inconsistente e herética, que pode ser resumida nestas poucas palavras: o crente, a partir do momento em que vive conforme os preceitos bíblicos, passa a ter direito a uma vida próspera em todas as áreas, incluindo a saúde, família, trabalho e sobretudo finanças, podendo determinar (ou seja, exigir de Deus) todo o bem que deseja receber. Esse conceito tolo cairia por terra se simplesmente considerássemos que ninguém vive em perfeita obediência à Palavra de Deus, por conseguinte não há um único ser humano em condições de reivindicar coisa alguma do Senhor. No entanto, o movimento da prosperidade cresceu, contaminou a maior parte das denominações cristãs e continua vivo no Século XXI.
 
A mensagem triunfalista da “teologia da prosperidade” logo atraiu a simpatia dos incrédulos. Vislumbrando uma vida bem sucedida e livre de problemas, multidões passaram a frequentar os cultos de denominações ditas evangélicas, conduzidas por pregadores astros, muito mais parecidos com palestrantes motivacionais do que com ministros do Evangelho. O mundo consumista e amante dos prazeres tolerou muito bem (e até firmou alianças com) a nova mensagem apregoada por pastores igualmente consumistas e amantes dos prazeres. Exemplo claro dessa estranha união entre “igreja” e mundo hoje no Brasil é a presença constante de cantores e bandas gospel na mídia, especialmente na TV.
 
Hoje, dezenas de milhões de brasileiros querem adquirir todos os bens de consumo que puderem, aproveitar a vida ao máximo, parecerem com os galãs de novelas, modelos famosas, atletas e cantores de renome, ao mesmo tempo em que se declaram seguidores de Jesus. Desejam a vida mais fácil, mais prazerosa – aqui não falamos dos prazeres espirituais, e sim dos carnais – e afirmam crer no Evangelho. Não veem nenhuma incompatibilidade entre uma coisa e outra, aliás, pensam que o sucesso e glórias mundanos são a consequência natural de se frequentar uma igreja evangélica, dar o dízimo e crer em Jesus. Abrem mão de apenas alguns pecados mais grotescos, quando abrem. Pensam que o céu é apenas uma extensão da vida que podem viver aqui na terra. Não querem humildade, renúncia, mordomia cristã, nada disso. Não são peregrinos e forasteiros em busca de uma pátria melhor, a celestial.
 
Porém, essa farsa não tem como perdurar. O mundo perdido jamais aceitará o Evangelho e nunca amará ao Senhor Jesus. Um dia a perseguição e as provações voltarão a acontecer, quando os verdadeiros crentes se levantarem denunciando a podridão do estilo de vida deste mundo e a imperativa necessidade do arrependimento, da conversão genuína, do negar-se a si mesmo e seguir a Cristo. Então, multidões abandonarão o Filho de Deus por amor a suas próprias vidas e ao presente século. Os que ficarem, os eleitos, amados do Senhor, sofrerão escárnio, zombaria, afrontas e outras injustiças diversas, porém guardados e protegidos pelo Pai Celeste. A igreja não terá glamour, espaço na mídia, cargos no governo ou a simpatia de poderosos, de jeito nenhum. Mas será santa e produzirá frutos agradáveis ao Senhor. Esta igreja, a que ficar, o remanescente de Deus, a noiva adornada, subirá para as bodas do Cordeiro. Mas a herética, fútil, carnal, mundana, perecerá.

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