terça-feira, 31 de março de 2015

Aos seguidores de Karl Barth

Karl Barth foi um dos maiores teólogos do Século XX. As obras do famoso pastor suíço natural da Basileia, considerado o pai da “neo-ortodoxia” protestante, têm influenciado gerações de obreiros e estudiosos de teologia há quase cem anos, desde a publicação da clássica “Carta aos Romanos”, de 1919. Este Blog não segue as ideias de Barth, aliás, discordamos de várias delas, por divergirem do entendimento cristão reformado tradicional em que cremos. Mas nutrimos por ele grande respeito e o consideramos um servo de Deus, o qual amou a Cristo, reconhecendo-O como único Senhor e Salvador. 

Entretanto, constatamos que muitos dos seguidores de Karl Barth da atualidade têm falhado naquilo que o mestre suíço tinha como seus pontos fortes. Pois grande parte dos barthianos contemporâneos desprezam algumas das lições mais importantes que se percebe na trajetória de vida de Barth. Esta é a razão de ser da presente postagem, um texto dirigido especialmente a tais pessoas. E é com temor que o fazemos, reconhecendo que entre elas há doutores e doutoras em teologia, homens e mulheres dotados de notório conhecimento acadêmico. E que muitos dos tais são pessoas amabilíssimas, corretas, cheias de virtudes de caráter. Por isso convidamos você, que hoje segue os passos de Karl Barth, a ler este texto, pois o Senhor, que fala através de iletrados e até de jumentas, pode ter algo a lhe dizer. 

Primeiramente, recordemos o início da carreira de Barth. O então jovem pastor da Basileia era um adepto do liberalismo teológico, socialista, filiado a um partido político de esquerda. Mas então experimentou um grande desgosto ao ver diversos de seus mestres apoiarem abertamente a política bélica do imperador alemão da época. Logo depois veio a Primeira Guerra Mundial e a sensação de perplexidade diante dos horrores experimentados na culta Europa, justamente quando se cria ter a humanidade atingido níveis excelentes em conhecimento e civilidade. Tudo aquilo fez Karl Barth rever suas ideias, voltando-se para Cristo e as Escrituras. 

Em segundo lugar, consideremos a relação de Barth com as Escrituras. Embora formado num ambiente acadêmico no qual reinava o liberalismo, onde todo o conteúdo bíblico que não pudesse ser comprovado cientificamente era descartado, o teólogo Suíço passou a reconhecer o livro sagrado como a testemunha de Cristo, o meio através do qual Deus nos fala eficazmente. Sua postura diante da Bíblia era de temor e reverência, se comparada à da maioria daquela geração. Prova disso foi a sua reação diante do programa de demitoligização do alemão Rudolf Bultmann (pelo qual se propunha desconstruir todos os “mitos” bíblicos, isto é, milagres e eventos sobrenaturais). O ceticismo e a crítica aberta de Bultmann às Escrituras causaram o rompimento definitivo e irreversível entre os dois teólogos. 

Finalmente, vale lembrar qual era o entendimento dele a respeito do significado de teologia. Barth considerava um absurdo que se transformasse a teologia em ciências da religião. A partir do estudo sobre o pensamento de Anselmo de Canterbury, Karl Barth elaborou a Teologia da Palavra, afirmando que esta não pode ser feita objetiva e friamente, mas somente tendo em conta a revelação feita por Deus em Cristo, a qual é recebida por graça mediante a fé. Disse também que só se pode fazer teologia com oração e em obediência. E que apenas por meio da fé, jamais da razão humana, é possível compreender a Deus e Sua revelação. 

É verdade que Barth não compartilhava do entendimento tradicional dos cinco Solas, a essência da fé cristã evangélica reformada. Não reconhecia a inerrância bíblica, negava a condenação eterna dos incrédulos e outros pontos importantes na teologia de precursores como Lutero e Calvino. Porém, seus escritos e experiências mostram um homem desiludido com socialismo e política, decepcionado com o liberalismo teológico, desgostoso com o “academicismo” e o tratamento frio e racional dado às Escrituras nos seminários, disposto a crer na Bíblia e obedecê-la, humilde e reverente diante da majestade de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo. São estas características que nos levam a respeitar Karl Barth, ainda que dele discordemos em diversas questões. 

Aos barthianos de hoje, muitos dos quais demonstram uma confiança tremenda nos partidos de esquerda e nos ideais socialistas, amam a teologia liberal, têm um prazer incrível nos debates sociológicos e filosóficos em torno da religião praticados nas universidades, criticam a Bíblia com uma tranquilidade assustadora (especialmente quando estão ministrando aulas nos seminários teológicos), apoiam uma série de práticas simplesmente incompatíveis com a mensagem bíblica (aborto, “casamento gay”, etc) não demonstrando nenhuma disposição em sujeitar-se aos padrões de Deus contrários à cultura vigente, nossa exortação é que mirem-se no exemplo de Karl Barth. Pois o pastor da Basileia, embora sujeito a imperfeições e falhas como qualquer ser humano, soube humilhar-se diante da mão poderosa do Senhor, e essa foi a sua força e o seu principal ensino. E que, considerando a peregrinação de Barth, do liberalismo rumo à ortodoxia, não tomem o caminho inverso, nem mesmo se detenham onde ele parou; antes, caminhem ainda mais que ele em direção à fé cristã bíblica ensinada por Cristo e divulgada pelos apóstolos. Que o Senhor os abençoe!

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